“Que engraçado moça, ando pelas ruas durante toda a semana e nunca ninguém disse que eu poderia ser notícia de jornal”, foi assim que Roberto da Silva Rodrigues, o Beto, 25 anos, reagiu quando pedi que falasse sobre sua profissão, ele é vendedor de quebra-queixo. Você pode até não saber o que é quebra-queixo, mas tenho certeza de que já ouviu o tilintar da barrinha de ferro no aro de metal, que é característico dos vendedores para chamar atenção para seu produto.
Para os mais desinformados, quebra-queixo é um doce feito com coco ralado, açúcar, limão e água. Semelhante a cocada, porém, com uma viscosidade peculiar, e que dá muito trabalho para comer. O sabor, no entanto, compensa o sacrifício. Não se sabe ao certo a origem da iguaria, mas há aqueles que arriscam: “Acredito eu que o nome foi dado por uma pessoa que errou na receita, por isso o doce é tão duro”, diz seu Vicente Albuquerque, 68 anos, freguês do Beto.
Quem já o provou sabe que, quando bem feito, o quebra-queixo arranca suspiros de quem o degusta. Roberto herdou o oficio do pai, que vendeu quebra-queixo durante muitos anos na região da Praça Oito, no Centro de Vitória. “Ainda muito pequeno ia com meu pai para a praça, onde ficávamos por horas, até garantir o suficiente para a refeição do dia”, relembra.
Roberto conta que muitos dos seus fregueses, são da época de seu pai, além de ter aqueles que são móveis, já que hoje em dia não tem um ponto fixo. Hoje, por exemplo, a região escolhida foi a da Grande São Pedro, nosso encontro aconteceu na Ilha das Caieiras. “O trabalho é difícil, porém gratificante, conheço pessoas e lugares, e ainda consigo sustentar minha família”.
Dona Lindinalva Freitas, 47 anos, freguesa do Beto, lamenta que seus filhos, já adultos, ainda não tenham lhe dado netos, até para que eles pudessem provar o sabor de sua infância, o quebra-queixo. Esse sentimento de nostalgia foi percebido durante o tempo que passei acompanhando o vendedor, as pessoas que se aproximavam, parecem querer voltar no tempo, é festival de recordações e lambança.
O segredo do quebra-queixo Beto não revela, mas diz que é preciso ter conhecimento para fazê-lo. “Não pode ficar nem muito azedo nem muito doce. Também tem a ciência de tirar do fogo no ponto certo. Não fosse isso, todo mundo podia fazer quebra-queixo”.